O papel da alimentação na saúde óssea do filhote

O crescimento esquelético é um processo altamente regulado e dependente de uma oferta nutricional precisa e equilibrada. Durante a fase de desenvolvimento, os filhotes apresentam uma taxa acelerada de crescimento ósseo, que exige aporte adequado de macro e micronutrientes para garantir não apenas o aumento em tamanho, mas também a qualidade estrutural e funcional do tecido ósseo. Entre os principais fatores determinantes para a saúde ortopédica nessa fase, destaca-se o papel da nutrição.

O cálcio (Ca) e o fósforo (P) são os minerais mais intimamente ligados à mineralização óssea, sendo componentes fundamentais da hidroxiapatita. No entanto, mais importante do que sua concentração isolada na dieta é a manutenção da proporção adequada entre eles. A relação ideal cálcio:fósforo para cães em crescimento situa-se, de forma geral, entre 1:1 e 1,8:1, podendo variar de acordo com a raça e o porte. Desequilíbrios nessa proporção — especialmente o excesso de cálcio — estão associados ao desenvolvimento de osteopatias nutricionais, como osteocondrose, displasia coxofemoral, osteodistrofia hipertrófica e panosteíte.

Outro nutriente essencial para a homeostase mineral e desenvolvimento ósseo é a vitamina D, que atua no metabolismo do cálcio e do fósforo por meio da regulação da absorção intestinal e da reabsorção renal. A deficiência de vitamina D pode resultar em raquitismo nutricional, enquanto seu excesso, mais comum em suplementações indiscriminadas, pode levar a hipercalcemia e calcificação de tecidos moles. Além disso, o fornecimento de proteína de alta digestibilidade e com perfil adequado de aminoácidos é indispensável para o crescimento adequado da matriz orgânica óssea, especialmente na síntese de colágeno tipo I, componente predominante do osso imaturo.

É importante ressaltar que o uso de dietas caseiras sem supervisão nutricional veterinária representa um risco considerável para a saúde osteoarticular do filhote, mesmo quando há intenção de oferecer ingredientes considerados “naturais” ou “funcionais”. O balanceamento de macro e micronutrientes, a biodisponibilidade dos elementos e a adequação calórica devem ser criteriosamente avaliados por um profissional capacitado, portanto, se sua opção for a alimentação natural é ainda mais imprescindível o acompanhamento nutricional. Já as dietas comerciais de alta qualidade, formuladas especificamente para a fase de crescimento, são desenvolvidas com base nas exigências estabelecidas por órgãos internacionais, como o NRC (National Research Council) e a FEDIAF (European Pet Food Industry Federation), oferecendo segurança nutricional para esse período tão importante.

Dessa forma, a nutrição deve ser compreendida não apenas como fonte de energia, mas como uma ferramenta preventiva essencial no desenvolvimento ortopédico dos filhotes. Um manejo nutricional correto é capaz de reduzir a incidência de doenças ortopédicas do desenvolvimento, especialmente em raças de médio a grande porte, que são mais suscetíveis a esses distúrbios.

Referências:

• National Research Council (NRC). Nutrient Requirements of Dogs and Cats. National Academies Press, 2006.

• Case LP, Daristotle L, Hayek MG, Raasch MF. Canine and Feline Nutrition: A Resource for Companion Animal Professionals. 3rd ed. Mosby, 2011.

Sobre a autora

Dra. Vitória Nakano é médica-veterinária com atuação focada em ortopedia e neurocirurgia de cães e gatos. Formação pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduação em Ortopedia e Neurocirurgia de pequenos animais pelo

CETAC, integra a equipe da clínica Ortho for Pets, em Moema, São Paulo. 

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